quinta-feira, 24 de março de 2016

Herege assumido! (Por Hermes C. Fernandes)




Quer mesmo saber? Sou herege! E digo isso com o peito cheio. Se quiser, pode me mandar pra fogueira agora mesmo. Estou pronto a morrer pela mensagem subversiva de que sou portador. Mesmo porque, não valeria a pena viver por algo pelo qual não me dispusesse a morrer.
Minha heresia?
Discordar do que tem sido feito em nome da ortodoxia.
Meu problema não é com a ortodoxia em si, mas com a práxis dos hipócritas que vivem o avesso do que afirmam crer. Esses me dão ânsia de vômito.
Por isso, resolvi chutar o balde e assumir de vez a postura de herege.*
Eles pregam a divindade de Jesus, porém tratam-no como se fosse um empregadinho. Chamam-no de Senhor, mas exigem que Se lhes submeta, atendendo às suas ordens, determinações e decretos.
Ensinam a divindade do Espírito Santo, mas ridicularizam-no com manifestações bizarras que não temem atribuir a Ele.
Pregam a salvação pela graça, e em seguida exigem que seus seguidores façam sacrifícios complementares para assegurar-lhes a condição de salvos ou garantir-lhes as bênçãos divinas.
Pregam que Jesus está às portas, mas levantam campanhas milionárias para construir catedrais suntuosas ou adquirir aviões, em vez de pregar a esperança de dias melhores e contribuir para amenizar as injustiças sociais.
Ensinam a generosidade só para colocá-la à serviço de sua própria avareza.
Cansei de fundamentalismo barato, intelectualmente preguiçoso, e ideologicamente comprometido com os poderes deste mundo. Cristãos que preferem ladear os poderosos, e desprezar os miseráveis e excluídos. Denunciam a pretensão socialista de que o Estado ocupe o lugar de Deus, mas fazem vista grossa ao Estado Neo-liberal que se presta ao papel de Diabo.
Prefiro a isenção profética! Não quero aliar-me a qualquer que seja a ideologia, pois todas são inequivocadamente imperfeitas. Prefiro ser porta-voz do Reino, a ser defensor de agendas ideológicas. Marx não me basta! Mas não será Olavo de Carvalho que me converterá num reacionário. Não me curvo ao Estado, mas também não me prostro ante o Capital. Ambos são potencialmente ídolos. Ambos exigem lealdade absoluta, coisa que só devo ao império de Cristo.
Livre comércio? Sim. Mas não ao custo da justiça. Justiça social? Sim. Mas não ao custo da liberdade.
Por favor, não me rotulem. Não sou penteca, mas também não morro de amores pelo tradicionalismo mofado que só serve ao orgulho denominacional idiota. Sou reinista! Só devo lealdade ao Rei dos reis!
Crer na contemporaneidade dos dons não me faz carismático nem pentecostal; crer na soberania divina não me faz calvinista; apreciar arte sacra não me faz idólatra, e negar-me a ajoelhar-me ante a uma imagem não me torna iconoclasta. Crer na intervenção divina em atendimento às nossas preces também não me faz um neo-penteca.
Se insistirem em me tachar, prefiro que me chamem de herege. Pelo menos serei identificado com os injustiçados, vítimas dos sistemas opressores que se arrogam detentores da verdade absoluta. Prefiro isso a ser identificado com os que oprimem, e em cujas mãos estão acesas as tochas da intolerância, prontas a atear fogo nos discordantes e rebeldes.
Se reeditarem a santa inquisição, a maioria dos líderes que explora seus rebanhos ficará de fora. E sabe por quê? Porque são todos ortodoxos e dogmáticos. Todos têm em comum a crença no concepção virginal de Cristo, em Sua ressurreição ao terceiro dia, em Sua ascensão**, na Criação em sete dias literais, etc. Nenhum deles pode ser acusado de heresia. Eles até poderiam escapar ilesos das chamas inquisitoriais, mas duvido que escapariam de outra chama!
Prefiro ser torrado nas fogueiras dos meus detratores a ter minha consciência chamuscada pela culpa, e minha alma alvejada pelas chamas do inferno.
Sou herege assumido, e quem não for... que acenda a primeira tocha!
*Heresia, do latim haerĕsis, por sua vez do grego αἵρεσις, "escolha" ou "opção".
** Coisas nas quais também creio.


terça-feira, 8 de março de 2016

Intensidade.


Por trás da calmaria, há um furacão.


Ela é tudo, menos desinteressante. É o todo maior que a soma de suas partes. É alma que dança, que sorri, que chora, que fala, que se chateia; são os olhos que suplicam e me encaram, são os lábios que formam o mais manhoso e belo "eu amo você", abafado contra o meu peito. São os braços que me envolvem, me dando e me pedindo segurança. É o mundo que se choca contra o meu e causa um rebuliço do qual não posso - e nem quero - escapar.

Ela é o espírito frágil carregando seus próprios tormentos. Mas também é a força que carrega em seu caminhar. É o que disseram sê-la, mas também é o que se faz ser a cada dia. É o que vê em si e o que não consegue enxergar. São os seus olhos e os meus olhos. É a sua e a minha verdade. 

Escrevo esse texto na ânsia de entender de onde vem o que sinto por você. De onde se principiou tal sentimento, como ele veio a pulsar dentro de mim. Por que, sempre que eu pensava em Aracaju e em construir uma vida lá, você era o nome que permanecia sussurrado e escondido no meu íntimo? Por que eu precisava tão desesperadamente vê-la? Quem era você, que provocava essa confusão no meu coração? Quem era você, que me deixasse assustado e receoso de prosseguir? Quem era você, para me fazer sair de minha redoma e arriscar, ser impulsivo? 

Eu sei quem você é. É alguém digna desse sentimento. É alguém de quem vejo o melhor e o pior, que a mim se revela por inteiro - e que em sua completude, me fascina, me atrai. É alguém por quem, mesmo nos maus dias, luto a cada momento. É alguém a quem me nego. 

E é alguém que se nega por mim. É alguém que nunca desistiu desse coração aqui, mesmo que houvessem os dias em que desejou ter desistido. Veja bem, meu bem: não era para ter desistido mesmo não, e aqui estamos. Aqui estou eu, e eu não vou desistir ou enjoar de ti. Mesmo nos dias ruins, a tua mão se estende até mim. Principalmente nos dias ruins, eu serei seu cais. Aporta-te em mim, e te darei a felicidade e o amor que sempre lhe foram reservados. Achega ao meu abraço, e não me completa: me transborda. 

Porque o amor é isso: o equilíbrio perfeito entre o que nos difere e o que nos une. E não há mais eu sem você, e você sem mim. 

"She's mad but she's magic. There's no lie in her fire."

sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

Star Wars - O Despertar da Força



Deixe-me começar essa resenha deixando uma coisa bem clara: Star Wars é a saga da minha vida. A maturidade pode ter me trazido consciência de que os filmes possuem sim suas falhas, mas desde moleque tenho paixão pelo universo criado por George Lucas e que agora continua nas mãos da Lucasfilm e da Disney, que esse ano nos trazem o filme mais aguardado do nosso tempo: O Despertar da Força.

Há cerca de um mês postei aqui uma análise de como poderia ser o filme (http://blogdochup.blogspot.com.br/2015/11/tentando-desvender-star-wars-force.html), e agora que o assisti é engraçado voltar pra esse texto e ver o que acertei ou errei. E não tão engraçado ver que alguns dos meus pedidos não foram atendidos...

A primeira coisa que temos de deixar claro é: para o bem ou para o mal, O Despertar da Força cumpre o que promete.

"Vinícius, como assim 'para o bem ou para o mal'?". Permita-me explicar, e me perdoe se soar chato, mas este não é um filme perfeito. Assisti eufórico, me exultei e saí satisfeito, mas há falhas sim. No meu texto de especulações já tinha deixado claro minhas preocupações se esse filme seria um mero "Uma Nova Esperança" em 2015. E embora ele é muito mais do que isso, não deixa de reciclar (muitos) elementos do primeiro filme da saga. Personagem confiando a um robozinho fofo algo importante para ficar longe dos vilões? Confere. Figura sinistra que seduziu o vilão do filme para o Lado Negro? Confere. Uma super-arma que destruirá planetas (nesse caso, sistemas)? Também. Relações familiares "reveladoras"? Sim. Está tudo lá, de novo. Isso gera conforto? Gera. Mas enquanto não me importava de reencontrar esses elementos dos filmes antigos, queria vê-los de forma mais dosada, ou sendo subvertidos. Talvez tenha faltado ousadia do Abrams, não sei... mas para algo eles ousaram. Algo que me destruiu. 

(Mas só assistindo pra vocês saberem)

Por outro lado, não há como amar cada referência (já tava pulando na cadeira quando Rey e Finn falaram sobre uma certa "sucata", e gritei junto com o resto do cinema quando a Millenium Falcom enfim apareceu). Cada aparição de um personagem clássico eram gritos e aplausos. 



O engraçado é como esse filme foi de certa forma transicional. Normalmente, analisando-se sob a ótica da "jornada do mito", temos a passagem da tocha, a transição entre o velho e o novo. Nesse caso, os nossos "guias" para esse velho universo (mas com ares de novo) foram justamente Han e Chewie, nossos mais adoráveis piratas espaciais - e que não à toa são os personagens antigos com mais tempo em tela aqui. Chewie com seus rosnados e sons característicos, que nos dizem tudo, e Han... ah, o que falar do meu personagem favorito? 30 anos depois e ainda o mesmo canalha, o mesmo "old dog", mas envelhecido, com uma sombra pairando sobre ele. Uma sombra que muitos já esperavam.

Mas quem rouba a cena mesmo são os novos protagonistas. Você tinha dúvidas de que uma catadora e um ex-Stormtrooper suportariam o fardo de levar essa saga para toda uma nova geração? Bom, não terá mais. Daisy Ridley e John Boyega são dois atores fantásticos, completos achados. A Rey de Ridley não é apenas linda e um amorzinho: ela é forte, ela é durona, ela é uma ótima pilota, ela não precisa de alguém segurando sua mão  na hora de fugir. Ela é a heroína que precisamos, aquela que ao lado de Imperatriz Furiosa e Jessica Jones mostra que lugar de mulher é onde ela quiser - inclusive em sua saga favorita. Apenas aceite isso. 

E ELA VAI LEVAR O CINEMA À LOUCURA NO TERCEIRO ATO. MAS NÃO VOU FALAR MAIS NADA!

O Finn (anteriormente FN-2187) de Boyega é feito de um material diferente. Ele não apenas traz humanidade a um exército de indivíduos arrancados de sua família e recondicionados com um único propósito (e espero que isso seja mais explorado adiante), mas como é um alívio cômico que sabe nos fazer rir, ao invés de nos irritar (Jar Jar, essa foi pra você). Além do mais, ele é um herói (se é um Jedi ou não, não cabe a mim te dar a resposta) e tem uma química maravilhosa com a Rey - de parceiros de luta, de amigos e - quem sabe futuramente? - de um casal.



Poe Dameron é um bom personagem, meio presunçoso mas completamente habilidoso no que faz, mesmo carecendo de mais tempo de tela (apesar de ser crucial no primeiro ato do filme). O mesmo não pode ser dito da Capitã Phasma da nossa eterna Brienne de Tarth, Gwendoline Christie. Para uma personagem que prometia ser badass, ela aparece muito pouco para nos causar alguma impressão. Mas já sabemos que ela voltará no EP. VIII (isso não é spoiler, já foi confirmado antes mesmo do filme lançar). E o que falar de BB-8? Se você achou R2-D2 adorável, vai simplesmente se apaixonar por essa bola e querer ter um pra si. Sério, que coisa fofa! MEU DEUS DÁ VONTADE DE MORDER! 



Mas o que seria de uma saga sem seus vilões, não é? Novamente "reciclando" um conceito de uma Nova Esperança, temos duas lideranças com abordagens distintas, obedecendo a uma figura maior. Falarei primeiramente de uma dessas lideranças e da tal figura maior. O General Hux foi uma grata surpresa. Nós vimos muito pouco dele durante a campanha de marketing de filme, e as comparações com Moff Tarkin eram inevitáveis. Mas eis que temos um homem duro, implacável, e que possui uma retórica inabalável. É marcante a cena em que ele discursa para os exércitos de Stormtroopers em Starkiller, e não podemos deixar de pensar nas associações com o Nazismo, até nos gestos feitos pelos integrantes da Primeira Ordem (e realmente espero que eles trabalhem ainda a temática política que foi um dos pontos mais fortes da trilogia prequel, nessa relação República x Resistência x Primeira Ordem). Já o Líder Supremo Snoke se mostra até imponente, mas não diz muito a que veio. Quem ele é e como se relaciona com os personagens principais com certeza serão questões pertinentes a serem respondidas nessa nova trilogia; um mote principal, com certeza.



Mas eu sei de quem vocês querem que eu fale, e lhes garanto: Kylo Ren é um vilão impressionante. Vai soar heresia para muitos, mas na minha opinião ele já se igualou ao Vader - e o supera em termos de construção emocional. Ele passa imponência e medo, mas também uma fragilidade emocional como não se via (tô desconsiderando o Anakin da trilogia prequel). Muitos podem reclamar do fato dele sem máscara não passar essa mesma imponência até porque o Adam Driver é um ator feio, mas aí entra essa questão da complexidade emocional e psicológica de que falei. Ah, e pode ter a certeza: você vai terminar o filme xingando muito ele. Muito.

No quesito técnico, o filme é um primor. Um dos aspectos mais notáveis e positivos foi a questão do ritmo apresentado. A verdade é: os filmes anteriores tem sim problemas de ritmo. A sequência em Hoth no ep. V é maior do que deveria, já que eles tinham que justificar o acidente do Mark Hamill; a sequência em Tatooine do ep. VI é exageradamente longa, com o plano de resgate de Solo na fortaleza de Jabba e a batalha sobre o poço de Sarlaac. O resgate de Palpatine no ep. III tinha de realmente consumir toda a meia hora inicial do filme? Acho que não. Mas aqui, neste sétimo episódio, em vinte minutos os personagens principais são introduzidos, o contexto é apresentado, a ação corre solta sem nunca soar muito apressada e tudo é feito com equilíbrio, sem soar exageradamente rápido ou demasiadamente enfadonho. E mesmo que o filme apresente algumas soluções muito rápidas (especialmente as referentes à Rey na segunda metade), cada ato é muito bem delineado e dosado, fazendo deste filme uma referência em questão de ritmo, ao lado de Mad Max. E sobre as lutas de sabre? Na medida certa, sem aquele "travamento" da trilogia antiga nem as piruetas da prequel. E vamos dar um desconto gente, os personagens tão aprendendo a manejar sabres de luz faz pouco tempo (o que não me impediu de gritar junto com todo mundo feito um louco na hora em que um dos personagens conseguiu usar a Força para pegar um sabre).

Abrams ainda peca com alguns de seus ângulos holandeses e seus flares, mas felizmente eles são muito poucos comparados aos seus filmes anteriores). A fotografia é excelente (me diz se não é de arrepiar a cena inicial de um Star Destroyer cobrindo um planeta inteiro), enquanto a trilha sonora do mestre John Williams, enquanto resgata muitos temas clássicos para o deleite dos fãs, não se destaca tanto com temas originais, à exceção do belíssimo tema criado para a Rey. Ainda assim, que esta lenda viva ainda muitos anos para continuar a compor para a franquia.

E é isso. Expectativas foram atendidas, fossem boas ou más. A questão é: O Despertar da Força é o filme que os fãs estavam esperando. Em sua grande maioria, foi o filme que eu queria. E mesmo que termine de forma tão inconclusiva, com excesso de perguntas e ganchos para serem respondidas nos próximos filmes (enquanto que Uma Nova Esperança era em sua maior parte um filme conclusivo em si mesmo), ele ainda é uma experiência marcante pra mim e tenho certeza de que está sendo para todas as gerações que acompanham com tanto amor essa saga maravilhosa, cujo legado se perpetua no cinema. Agora resta esperar pelos próximos episódios e as "Anthologies", e palmas pro Abrams, Disney e Lucasfilme que trouxeram um monstro de bilheterias!

Que a Força esteja conosco, amigos.



quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

Nós.

Penso naquela noite como a "noite em que tudo começou".

Na verdade, na verdade, não foi exatamente nela que começou. Talvez jamais haja um dia em que eu possa explicar racionalmente o que queria naqueles dias. Mas desde que tinha chegado em Aracaju, sabia que eu queria ver você. Naquela tarde eu queria estar com você. E fui conseguindo. Mas por que queria tanto aquilo? O que realmente estava acontecendo?

Isso ficou claro no momento em que nos despedimos. 

Minha barba roça em sua bochecha. "Espero que isso não seja um adeus", digo (ou algo assim - obrigado por ter me lembrado desse momento com mais nitidez ontem). Aquele momento prolongado, onde um não quer largar o outro. Encaramo-nos nos olhos.

É aqui aonde ficção e realidade se separam. Aonde o que foi difere do que poderia ter sido. Nós dois chegamos ao consenso de que o melhor que podia ter acontecido naquela noite foi não termos nos beijado. Mas mesmo assim não consigo parar de imaginar nesse beijo realmente acontecendo, trazendo à tona todos os sentimentos escondidos, confusos ou claros. O momento em si seria único, seria perfeito. Era o que queríamos, mas hesitei. Hesitei por saber que meus sentimentos não pertenciam a você, que se aquilo significasse o começo de um relacionamento não estaria sendo contigo, não estaria me doando da mesma forma que você se doaria a mim.

Quase oito meses depois, e aqui estamos. E eu sei que meus sentimentos pertencem a você e a mais ninguém.

O Pai fez uma obra maravilhosa conosco nesse ano, sei que sim. E mesmo que tenhamos começado 2015 sem a ideia de que o terminaríamos juntos, Ele já tinha um propósito claro pra nossas vidas. E assim vem nos tratando, curando, aperfeiçoando com Seu amor, Sua graça e misericórdia. Misericórdia de nós porque ter começado um relacionamento a distância em abril significaria um fim imediato dele, pela nossa imaturidade, pelos problemas que a distância sempre traz. No entanto, aqui estamos. Aqui, agora.

Tenho plena consciência de que o Pai preparou o tempo certo pra nós. O tempo certo pra eu perceber que você era a garota certa pra mim, que independentemente da mágoa que pudesse ter te causado havia ainda uma fagulha, um sentimento perpetuando-se, esperando para ser correspondido. Ele te fez esperar por mim e essa espera valeu a pena. Ele a preparou pra mim e me preparou pra você. E no tempo certo começamos. No tempo Dele, na confiança da graça Dele que superabunda nossas vidas, seguimos em frente, sem ter de olhar para trás, senão pra ver aonde começamos.

Sempre vou me lembrar do meu roçar de barba na sua bochecha. Das minhas últimas palavras. Por perceber o quanto elas estavam certas. Nunca foi pra ser um adeus, meu amor. Com fé no Pai, Autor e Consumador de minha fé, eu voltarei. E nesse dia vamos nos olhar nos olhos e não haverá hesitação. Nenhuma confusão. Apenas a clareza do que sinto por você e vice-versa.

A certeza de um propósito que, assim creio, se cumprirá ao longo de nossas vidas. Juntos.

domingo, 22 de novembro de 2015

Quando penso que já sei de tudo...

O caminhar com o Pai exige, por si mesmo, crescimento. É incoerente viver uma vida que se é nomeada como cristã e que no entanto permanece estagnada, nunca avançando do ponto onde está, sustentada por velhos alicerces de religiosidade e conceitos deturpados da Verdade.

Quando aceitamos a vontade de Deus sobre nossas vidas, é preciso entender algo: o mundo é mais do que as nossas escolhas, e os caminhos que tentamos seguir por nós mesmos muitas vezes levam à morte. Em Jeremias 10.23 está escrito: "Eu sei, ó Senhor, que não cabe ao homem determinar o seu caminho, nem ao que caminha o dirigir os seus passos", e Provérbios 16.9 diz: "Em seu coração o homem planeja o seu caminho, mas o Senhor determina os seus passos". Já em II Samuel 22.31 a palavra é a seguinte: "Este é o Deus cujo caminho é perfeito; a palavra do Senhor é comprovadamente genuína. Ele é escudo para todos os que nele se refugiam". 

Com isso, quero dizer que Deus toma o controle das nossas vidas e que não precisamos fazer mais nada, pois Ele decidirá por nós? Não, pois creio que "esperar é caminhar". O que de fato quero afirmar é que Seu Espírito enche-nos de sabedoria, capacita-nos com discernimento e conhecimento da Tua Verdade, possibilitando que assim possamos entender a Sua boa, perfeita e agradável vontade. E assim, através da obra Dele em nossas vidas, fazemos o nosso caminho.

Só que mesmo assim podemos nos perder nesse caminho. Muitos, depois de anos dentro de igrejas, liderando ministérios, vivendo uma vida aparentemente irrepreensível, julgam estarem mais do que aptos e capacitados, de modo que não precisam mais saber nada da Palavra ou do próprio Pai. Mas se o caminhar com Ele exige crescimento, como podemos esperar que haja um ponto final? Como podemos sequer supor que pelos nossos próprios méritos já atingimos o mais grau elevado de santificação e que não há mais nada para se melhorar, se tratar dentro de nós? Só esse pensamento já demonstra que ainda estamos longe do que se consideraria "ideal" para um cristão. E esse ideal é Cristo. Não há espaço na mensagem do Evangelho para meritocracia. Apenas pela graça (receber o que não merecemos) e pela misericórdia (não receber o que merecemos) do Altíssimo é que temos condições de sermos salvos.

Nesse processo, mesmo entre erros e quedas, a figura e o legado de Cristo, em toda a sua humildade, soberania e poder, permanece como alvo. Apenas Ele foi irrepreensível; quanto a nós, temos cada um que matar nossos leões por dia. Por isso somos convidados à autorreflexão diária; temos de lidar com a dor e a adversidade que quando superadas, também fomentam nosso crescimento; precisamos ser imbuídos pelo Espírito de sabedoria que nos permita reter o que é bom da crítica (tantas vezes necessária) do outro, de cada situação que vivenciamos. Que o caminhar com o Pai nos traga evolução e não involução; mudança e não estagnação.

Quando pensarmos que já sabemos de tudo, é quando precisamos perceber que não sabemos de nada.

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Tentando desvender Star Wars: The Force Awakens.








Então galera, falta cerca de um mês pra 17 de dezembro, a tão aguardada data em que a Força dominará novamente os cinemas. Pra quem não sabe, sou um fã incondicional de Star Wars desde criança, e como milhões de outras pessoas meu hype pro filme tá imenso. Especialmente porque a Disney e a Lucasfilm tão mandando ver com o marketing, apenas atiçando mais e mais nossa vontade.

Ontem rolou um novo TV spot (comercial) de Force Awakens, os quais vocês podem assistir aí em cima. Bom, nele deu pra notar algumas coisas muito interessantes, como o provável local aonde a Rey vê aquelas frotas da Primeira Ordem. Sei que muita gente quer o mínimo de divulgação possível sobre o filme pra evitar spoilers (eu incluso), mas paradoxalmente muitos querem o mínimo de informação, saber do que o filme vai falar de fato, saber aonde o Luke tá (eu também incluso). Então tava raciocinando de ontem pra hoje, e com base nos trailers, comerciais e imagens divulgadas até agora tô tentando formular em linhas gerais como vai se dar a história do filme, dentro de uma estrutura de três atos. Vai ser um texto longo e ainda ficará um bocado vago, mas vou falar mais embaixo porque isso é uma coisa boa:

Se você ainda não assistiu nenhum filme da série, ou não sabe nada sobre o novo, joga no Google, filhão! Não perca tempo. Não me importa se vai assistir na ordem 4-5-6-1-2-3 ou 1-2-3-4-5-6, é bom se inteirar, porque vou considerar que todo leitor deste texto vai ter o mínimo de noção do que trata a saga e de quem é quem no vindouro filme.

1º ATO

-Já sabemos que em algum ponto do filme o Poe Dameron vai ser capturado e torturado pelo Kylo Ren. Parece o tipo de cena pra se ver mais pra metade do filme, mas depois que saiu uma imagem do Finn e de um algemado e ensanguentado Poe, acho que está bem claro que essa captura do Poe vai se dar no começo do filme. Talvez comecemos com alguma batalha no espaço (pra manter a tradição da franquia de começar seus filmes com alguma sequência, mesmo que breve, aonde ele será capturado pelas forças da Primeira Ordem. E quem é um soldado da nova força do mal? Finn, que já sabemos que será um desertor. Mas por quê? Vi gente especulando que ele está desiludido com os planos de Kylo e dos líderes da Primeira Ordem, o que pode incluir uma nova Estrela da Morte (de novo?????? Espero realmente que não). Então, tanto quanto ele tenta escapar e desertar, podemos prever que ele ajudará o Poe a fugir. 



-O que eu acho que vai acontecer: Poe consegue fugir e voltar para a Resistência, mas Finn é abatido em Jakku. E aqui entra a nossa querida Rey, uma catadora que foi deixada pelos pais no planeta quando criança ainda (ai, são tantas teorias...). Nós já a vimos com BB-8, nosso mais novo robô do coração. Mas é perceptível que BB-8 não pertence a ela, então como se conheceram? De onde vem esse simpático robozinho-bola? 

(Até porque já vimos imagem do BB-8 com o Poe, no que podem ser partes mais tardias do filme. Será que ele pertence ao piloto? Se sim, estava no Destroyer junto com ele quando foi capturado? Como chegou em Jakku, com o Finn, talvez? Mas porque não o vimos juntos, nas cenas em que Finn caminha pelo deserto? tantas indagações...)

A treta tá louca aqui.


-Vimos imagens de Kylo, a Capitã Phasma e Stormtroopers incendiando uma vila, promovendo um massacre talvez. Será Jakku? Pareceu ser um local no deserto (mesmo sendo de noite), então creio que sim. Estarão atrás do Finn? Muita mobilização por um desertor, acho. Mas de qualquer forma, é importante notar que o local aonde o ex-stormtrooper e a Rey estão é violentamente atacado. e eles são forçados a fugir em polvorosa. Parece o fim...

... Até que nossos queridos Han Solo, Chewbacca e a grande Millenium Falcom dão as caras e salvam o dia!

"Chewie, we're home."

(suor masculino escorre dos meus olhos)

-Percebam que é só dentro da Millenium que Rey e Finn se apresentam. Ou seja, o ataque ao vilarejo de antes é realmente bastante súbito. E aqui encerra o segundo ato.


2º ATO

-Essa parte, assim como a terceira, é mais nebulosa e vaga, mas tentei encaixar algumas peças aqui e ali. Primeiramente, vamos considerar o fato de que Han confirma a existência dos jedis e dos sith pros jovens protagonistas, e os leva para o que parece ser a fortaleza de Maz Kanata, uma pirata. 

Só gente boa aqui.


-Essa deve ser uma parte com muitas revelações, familiares até ("i know your eyes", diz Kanata a alguém no primeiro comercial - teorias de parentescos sendo confirmadas?). Mas como disse no começo desse texto, uma batalha acontecerá aqui, o que é evidente pela cena em que a Rey corre e vê o que parece ser o palácio dos piratas sendo atacados pelas forças da Primeira Ordem. E enquanto ela é encurralada por Kylo Ren e seu sabre-cruz, vemos Finn, Han e um ferido Chewie presos por Stormtroopers em meio a ruínas (tudo indica que se trata do mesmo local).

-Felizmente a salvação vem, e creio que seja Poe retribuindo o favor, atacando os Stormtroopers com X-Wings e garantindo a libertação dos personagens. Como ele chegou lá? Bem, nós o vimos numa sala de guerra com Almirante Akhbar, C-3PO (e seu intrigante braço vermelho) e Princ... não, GENERAL Leia. Han deve ter mandado um sinal ou algo assim, possibilitando o resgate. As cenas do Poe e Finn em meio à mobilização das tropas da Resistência e de Leia chorando nos braços de Han (por que ela tá chorando? Já fico preocupado) parecem se dar num mesmo planeta também. Ou será uma lua? Yavin 4 continua a ser uma base? É bem provável. 

Não chores, minha general.



-Agora... onde está a Rey? Terá sido ela capturada pelo Kylo na floresta? Seria um bom lance pro...

3º ATO

-Nós vimos na trilogia original sempre a mesma história: o Império atacando a Aliança Rebelde. Quando esta atacou primeiro, foi uma armadilha (Retorno de Jedi). Não dessa vez, pessoal. Vimos nos trailers e comerciais cenas de uma grande batalha num planeta nevado - ou seria a tal Starkiller que vimos no cartaz oficial do filme, uma super-arma tão gigantesca que poderia se passar por um planeta (isso sem contar que pela descrição dela, é capaz de destruir SISTEMAS)? Enfim, juntei os pontos e considerei que essa batalha pode ser o grande clímax do filme, bem como o local onde Kylo enfrenta Finn - e ganha, a julgar pela Rey chorando sobre um corpo (que creio ser de um ferido, mas não morto, Finn). Teremos uma reviravolta? Rey pode vingar o amigo caído e derrotar Kylo?

Kylo sem a máscara (pronto, podem parar de dizer que ele é o Luke, caramba!) na paisagem nevada aonde chuto que o clímax do filme vai se passar...

... E prestes a desafiar os mocinhos.


Mas ainda tudo é muito incerto. Como disse, no geral são chutes meus, chutes baseados no que já tivemos de divulgado até agora. E ao contrário de filmes como Era de Ultron e Terminator: Genysis, não tivemos spoilers escancarados até agora. Prova disso é o terceiro trailer, que botou a internet de cabeça pra baixo sem nos dar nada, repito NADA, da história do filme. E mesmo que esses TV spots estejam entregando um "pouquinho mais", ainda não tá nada no nível de spoiler chocante. Pontos pra JJ Abrams, pro elenco, pra Disney e pra Lucasfilm por isso então.

Portanto, aqui ficam as minhas indagações e a de muitos:

-WHERE'S LUKE???????????? O protagonista da trilogia original está sendo mantido no mais absoluto sigilo, e estamos todos loucos querendo saber o que ele tá fazendo. Se isolou a la Yoda? Fará as vezes de velho sábio como Obi-Wan? Sucumbiu ao lado negro (sim, NEGRO, não SOMBRIO) da Força? Ou aprendeu a manejá-la de uma forma que nenhum Jedi ou Sith tinha conseguido? Do Mark Hamill só temos um vislumbre dele tocando o R2-D2 com sua mão robótica (quer dizer, isso se realmente for ele, né) e uma foto que lembrou DEMAIS o Obi-Wan. De resto, tá sumido. Nem no pôster oficial do filme ele deu as caras. E já que o Abrams falou que essa falta de enfoque nele não é coincidência, só posso torcer pra que grandes planos lhe estejam sendo destinados.

-Teremos laços familiares ocultos? Finn ou Rey são filhos de alguém do elenco original? Não creio muito que Rey seja filha de Han com Leia, a julgar pelo pouco que vimos da interação deles no trailer ("It's all true"), mas quem sabe, né? A frase de Maz que mencionei antes não deixa dúvidas de que alguém é pai ou mãe de alguém nessa joça. Felizmente não está nada tão óbvio assim, e a multiplicidade de teorias na internet confirma isso. A melhor ainda é a de que tudo é um complô do Jar Jar Binks.

-Kylo Ren será um novo Darth Vader? No início eu tava receoso pela repetição de "tropos" neste filme, mas não há como negar: o vilão deixou uma marca memorável ao longo desses últimos meses e parece ser bastante ameaçador (Que não seja uma decepção como Ultron ou Franz Oberhauser, amém). Mas ainda estamos diante de um enigma: quem é ele? Por que tamanha obsessão com o legado do Império? Terá ele algum parentesco com algum dos personagens da trilogia original? 

-Já que estamos falando de Primeira Ordem e seus vilões, gostaria muito de saber como o General Hux se encaixa na história. Não nos foi dado muito dele até agora, mas tô chutando que vai ser algo no estilo Moff Tarkin em Uma Nova Esperança. Ah, e não vamos nos esquecer da Capitã Phasma, a Stormtrooper mais badass que já vimos (e que promete não errar nenhum tiro).

-Acima de todos eles, existe o Supremo Líder Snoke. Quem é ele? Até do Luke já tivemos vislumbre e desse cara nada. Novamente usando a lógica dos "tropos", ele poderia representar pra essa nova trilogia o que o Imperador representou pra antiga. Mas honestamente, tô torcendo pro Abrams subverter esses lugares-comuns. 

-Han e Leia ainda estão juntos? Por favor, sim. Eles são um dos meus casais favoritos.

-Alguém do elenco original vai morrer? Já vimos Chewie ferido e muita gente especulando que fosse o corpo dele aquele sobre o qual a Rey estava chorando (algo já praticamente desmentido, como já falei), enquanto outros falam que Kylo matará Han. Por favor, não. Não sei se eu aguentaria (esse pirata canalha é o meu personagem favorito da saga).

-E um monte de outras coisas. Mas vou parar por aqui, o post tá gigantesco!

Enfim, é isso. Vejam essa análise mais como uma compilação de ideias, muitas minhas, outras baseadas no que vi por aí nas redes socias e em sites SE ESTÁ NA INTERNET É VERDADE. Uma coisa é certa: a ansiedade é alta pra esse filme, e pelo histórico cinemático do Abrams e pelo comprometimento de toda a equipe as chances de nos decepcionarmos são mínimas (a não ser que suas expectativas sejam estratoféricas). Dia 17/12, espero estar lá com minha irmã, exultando de felicidade quando os primeiros acordes do tema icônico de John Williams começarem a tocar e os letreiros gigantes forem subindo! Até lá, que a Força esteja conosco!

EDIT.: Saiu um novo teaser focado no Finn, e logo no começo parece ser ele o Stormtrooper assustado durante o ataque noturno a uma vila. Então, retificando o que falei ali em cima, deve se supor que esse ataque à vila deve se passar antes da deserção do Finn, e portanto não está necessariamente ligado a uma procura por ele por ter desertado.



domingo, 27 de setembro de 2015

Da ideologia, da contradição e da essência cristã.

"É tão intelectualmente desonesto defendermos uma ideologia que não conhecemos, como atacarmos uma ideologia que nunca examinamos. Estudar é fundamental. Livro na mão e pé na lama da favela produzem os melhores intelectuais. E a melhor teologia!

Falava outro dia no Congresso da Juventude Batista Brasileira, realizado em Campo Grande, Mato Grosso do Sul, quando um grupo de jovens, ao término da minha mensagem, me procurou. Conversamos longo tempo. Gostei demais deles. Todos demonstravam grande inquietação quanto a serem considerados marxistas pelo simples fato de defenderem certas ideias, que na verdade, em seu modo de ver, representam apenas o que o cristianismo proclama. Eles me pareceram lidar com uma pergunta importante, que poucos ousaram responder: quanto do marxismo uma pessoa precisa acreditar para ser considerada marxista? Lembro-me de Dom Hélder Câmara: "Quando dou comida ao pobre dizem que sou santo, quando pergunto por que algumas pessoas são pobres dizem que sou comunista".

Outro tipo de injustiça também pode ser praticada. Considerar necessariamente inimigo do pobre quem rejeita o marxismo. Há muitos que almejam a economia de mercado, com todo seu estímulo à produção de riqueza e competição criativa, regulada pelos ideais de justiça do cristianismo. Eles não creem na revolução do proletariado, não estimulam a luta de classe, e, contudo, rejeitam a exploração do pobre, o lucro como a medida de todas as coisas e a ganância que esgota os recursos naturais do planeta.

Como o cristianismo não cabe nem nas ideologias de direita, nem nas ideologias de esquerda, gostaria de dizer aos que se sentem injustiçados, vítimas dos ataques mais ácidos de ambos os lados, que não ser compreendido é da natureza da verdadeira sujeição a Cristo. Faz parte da vida cristã ser objeto de contradição. O dia em que o mundo nos compreender há muito teremos deixado de viver como discípulos de Cristo.

O importante, seja você de direita, seja você de esquerda, é ser encontrado do lado do pobre, perto de quem o Senhor Jesus sempre esteve. E quando uma chacina como a de Osasco - que interrompeu a vida de 19 pessoas no dia 13 de agosto deste ano -, acontecer, jamais deixar de protestar. Porque você dificilmente será levado a sério se a defesa mais veemente das suas ideias não vier acompanhada da prática concreta da justiça e da misericórdia.

A ideologia sem obras é morta."

Antônio Carlos Costa